quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Mistério da fé

Em conversa com uma senhora que estava sentada nos seus 88 anos, ouço atentamente a sua história de menina que começou a trabalhar deveria ter uns cinco anos de idade. Contava-me os pormenores dos tempos difíceis da época de 1920. Ao longo da história sentia os meus pensamentos borbulharem com cada palavra, cada frase daquela senhora de olhos azuis e cores suaves. Todos os seus gestos são simples e humildes. Ainda trabalha no campo, menos que antigamente, mas continua preocupada com a sua terra e com os seus fiéis amigos, cães e gatos. Que mulher! Depois começou a falar da morte e eu, respondia frases politicamente correctas. Até que senti que a senhora Maria falava mais de morrer do qualquer outra pessoa que conheço. De facto com 88 anos e de seis irmãos mais velhos e mais novos só restar a senhora Maria, dá que pensar. Como será ter 88 anos? Como será a morte? Será bom, mau, difícil, fácil? Fitava-a e não parecia muito atormentada com o facto de poder partir e de isso poder acontecer a qualquer momento. Porém eu não conseguia estancar a mente e ocorriam-me diversas ideias e sentimentos: será que a senhora Maria pensa muito no seu percurso de vida, no que poderia ter feito e não fez? Guardará mágoas dos tempos árduos e de escassa comida? Terá medo de morrer? Terá sido feliz?
Foi o sorriso. Foi o seu sorriso tão bonito e espontâneo que me convenceu. Afinal a senhora Maria falava da morte como falava de outros assuntos. A mim despertou-me o assunto porque não estou habituada a conversar de um desfecho que em princípio será tão natural como nascer. A sapiência da senhora confere-lhe uma prudência invulgar e quase inata na forma de ser e estar. “Faço tudo o que quero”, afirmava. “Quando as pessoas morrem cedo é porque não se cuidam. Eu não bebo vinho e não como carne e contínuo a trabalhar”, passava-me o seu testemunho. “A vida é o que é e as coisas são o que são, temos que encarar e viver o melhor possível”, reforçava enquanto sorria e eu acenava positivamente. A senhora Maria que nunca estudou e sempre trabalhou no campo transmitia-me singelamente o segredo da sua longevidade. Mulher assim só podia ter dado à luz uma Santa que até tem o mesmo nome que a canonizada Nossa Senhora de Fátima. Aproximava-se a hora da despedida. “Fique mais um pouco, a minha filha deve estar a chegar”. Fiquei e a senhora Fátima chegou. Tal mãe, tal filha. Enchem-me de paz aquelas duas senhoras. Representam na perfeição o que significa ter fé. Mesmo com diferentes tragédias familiares, todas as mortes, todas as dificuldades, nunca ouvi classificarem a vida de boa ou de má, nunca as ouvi reclamar da vida ou dos acontecimentos. Verdade seja dita que quando estou junto delas até eu acredito mais! Obrigada.
Isabela

1 comentário:

Vitto Vendetta disse...

posso dizer que te entendo perfeitamente..

fiquei agradado com este post, pois ao descer post por post pensei que já não me ias conseguir prender a este blog, mas este post... sim senhora, parabens, tens sensibilidade e acutilância na escrita!

ah, e gostei muito de tornares nítido as tuas influências cristãs, pois acho que renegar os ideiais em prol de um blog é absurdo, como muitos fazem só para terem mais leitores...

parabens...

aproveita e dá uma olhadela no meu

http://pvendetta.blogspot.com

PS: - és de uma boa terra :)

www.isabelashopping.blogspot.com