terça-feira, 29 de dezembro de 2009

É melhor ser uma árvore sem folhas do que ter folhas de plástico em Palavras de Osho


Eu costumava usar cabelo comprido na infância. E também costumava entrar e sair da loja de meu pai, porque a loja e a minha casa eram ligadas. A casa ficava atrás da loja e não havia outro jeito a não ser atravessá-la.

As pessoas perguntavam, "Quem é aquela garota?" — por causa do meu cabelo comprido. Elas não imaginavam que um menino pudesse ter um cabelo tão comprido.

Meu pai ficava embaraçado e com muita vergonha ao dizer, "Ele é um menino".
— Mas — ele implicava ao me ver —, para que todo esse cabelo?

Um dia — isso não era próprio dele — meu pai ficou tão embaraçado e zangado que me pegou e cortou ele mesmo o meu cabelo. Pegou a tesoura que usava para cortar tecido na loja e cortou o meu cabelo. Eu não disse nada — e ele ficou surpreso. Então disse:

— Você não tem nada a dizer?
— Direi à minha própria maneira — respondi.
— Como assim?
— Você verá.

Fui então ao barbeiro, viciado em ópio, que havia bem em frente da nossa casa. Ele era o único homem por quem eu tinha respeito. Havia várias barbearias, mas eu gostava daquele velho. Ele era uma variedade rara; e gostava muito de mim; costumávamos conversar durante horas.

Então fui lá e disse a ele:
— Raspe a minha cabeça.
Na Índia, as pessoas só raspam a cabeça toda quando o pai morre. Por um momento, até aquele homem viciado em ópio recobrou o juízo.

— O que aconteceu? — perguntou. — Seu pai morreu?
— Não me aborreça com perguntas — respondi. — Faça o que estou dizendo; não é da sua conta! Simplesmente corte todo o meu cabelo, raspe tudo.
— Está certo, não é da minha conta. Se ele morreu, morreu.

Ele raspou a minha cabeça e eu fui para casa. Atravessei a loja. Meu pai olhou para mim e todos os clientes fizeram o mesmo.
— O que aconteceu? — perguntaram. — Quem é esse menino? O pai dele morreu?
— Ele é meu filho e estou bem vivo! — respondeu meu pai. — Mas eu sabia que ele ia fazer alguma coisa. Deu-me uma boa resposta.

Aonde quer que eu fosse as pessoas perguntavam:
— O que aconteceu? Seu pai estava tão bem!
E eu dizia:
— As pessoas morrem com qualquer idade. Você está preocupado com ele, não está preocupado com os meus cabelos.

Essa foi a última coisa que meu pai me fez, porque ele sabia que a resposta poderia ser mais perigosa! Eu disse a ele:
— Você é que começou. Por que ficar tão embaraçado? Você poderia dizer: "Ela é minha filha". Eu não teria nenhuma objeção contra isso. Mas você não deveria ter interferido no meu jeito de ser. Foi violento, bárbaro. Em vez de falar comigo, você simplesmente começou a cortar o meu cabelo.

Ninguém deixa que alguém simplesmente seja quem é. E você aprendeu todas essas ideias tão profundamente que parecem que são suas.

Simplesmente relaxe. Esqueça todos os condicionamentos, jogue-os fora como as folhas secas que caem das árvores. É melhor ser uma árvore sem folhas do que ter folhas de plástico, galhos de plástico, flores de plástico; é tão feio.


Osho, em "Coragem: O Prazer de Viver Perigosamente"


www.palavrasdeosho.com

2 comentários:

carlluz disse...

Mais um lindo texto desse grande Mestre - Osho ... sem duvida que temos de ser quem somos , sem condicionalismos de nada nem de ninguém, simplesmente Ser .. e Ser autenticos.
Obrigado pela partilha
Bjinho
Carlos

Isabela disse...

Obrigada eu pela visita e pelo comentário!
Beijinhos de luz!

www.isabelashopping.blogspot.com